
Meu nome é Renata Sampaio, eu sou carioca, mas eu moro aqui há dois anos e meio. Fico Rio e Porto Alegre há seis anos, mas eu moro aqui há dois anos e meio. E faço 31 hoje (08/06).
Nítida: Parabéns! E como começaste o teu interesse na fotografia?
Renata: Então, eu achei muito engraçado quando você me convidou porque eu nunca me defini enquanto fotógrafa e aí pensei em falar contigo que acho que não era para eu ir porque não sou fotógrafa. Só que isso foi muito bom na verdade, porque eu comecei a pensar qual era o meu histórico na fotografia e pensar como que a gente nega os bons rótulos. As coisas ruins a gente fala logo, as coisas boas “ai não, não sou artista, não sou fotógrafa, não sou não sei o que”… Então eu falei sim, eu trabalho com fotografia.
N: Sim, tem uma questão da imagem muito forte né.
R: É, tem. Na verdade, eu sou das artes cênicas e comecei a trabalhar com performance porque percebi que o teatro não dava conta das questões que tinha a ver com minha identidade. Na verdade, o teatro me colocava em estereótipos que são todas as mulheres negras que são colocadas nesse lugar da interpretação e a performance me dava liberdade de eu falar do que eu queria, permanecendo com as coisas que me importavam para mim e para outras mulheres negras. Então isso tem muito a ver com a propriedade de imagens que imagem a mulher negra tem… Qual a imagem construída da mulher negra no imaginário social e coletivo né. E aí eu comecei a trabalhar com performance e a princípio eram ações mesmo feito ao vivo, depois eu fui vendo que o vídeo era mais interessante em termos de difusão e de construção de uma imagem e de uma ideia de uma imagem que se repete. E eu falei assim, “bah isso tem tudo a ver com fotografia.”
N: Pois é, na hora, logo lembrei de ti.
R: É, tudo a ver com fotografia. Aí depois comecei a trabalhar performance para fotografia. No caso não era eu que fotografava, mas eu dirigia e chamava fotógrafos que se interessassem. Que foi interessante. Daí de um tempo para cá eu tenho fotografado e eu acho que não tem nada a ver com fotografia. Por que me chamaram?
N: Tens sim.
R: Enfim, eu tenho começado a pensar no autorretrato na fotografia. Me retratar e ter essas imagens a partir do meu próprio registro e não do registro do outro que é uma questão de empoderamento muito grande. Até então era o meu trabalho, minha narrativa sobre o que eu quero falar enquanto uma mulher negra, mas não tinha o meu olhar. Eu precisava do olhar do outro pra esse trabalho acontecer e agora eu tenho visto que não, que eu posso também fazer esse registro.
N: Ah que legal isso.
R: Mas isso é super recente. Descobri quando você falou comigo… Ah, olha só, pois é, eu acho que tem coisa de um mês que eu tenho começado com isso, então tem tudo a ver.

N: Uma outra pergunta. Tu já passaste por alguma situação de descrição de gênero, raça ou machismo na fotografia? Em situações que tu tava fotografando?
R: Na fotografia… Na arte em geral o tempo todo. Tenho alguns trabalhos que falo da questão da sexualização da negra e em alguns momentos são claramente críticos, mas que colocam uma seminudez, uma coisa assim, uma ironia de ter gente que não entendeu e achar que é uma sexualidade…
N: Ah, acontece em meu trabalho das tábuas. Vários homens…
Renata: Que acham que é um convite.
N: Já chegaram para mim “ah que tábua legal, eu tenho um amigo que vai gostar”
R: Nossa. Eu tinha um trabalho que era um estudo sobre fotografias com poses clássicas e sensuais em fotografias da mídia. Peguei várias revistas, as poses sempre as mesmas.. Se você parar e ver, é uma coisa assim, meio joelho… Pode ser qualquer tipo de mulher, qualquer corpo entra no padrão daquela imagem. Aí eu fazia as imagens e perguntava, “assim você me vê?” e aí uma pessoa me falou “sim, gostosa”.
N: Que horror, sério?
R: Sim, vê… Assim a pessoa vê de um jeito que você não quer ser visto hoje. Quer dizer, de certa forma, na fotografia, em casa.
N: E o que tu entendes por feminismo e se tu te consideras feminista?
R:Acho que o que eu entendo por feminismo tem a ver com empoderamento de mulheres, de mulher para mulher… Acho que a valorização da mulher nunca necessariamente tem a ver com mulher para mulher de si consigo mesmo.
N: Colocar em palavras és difícil, né?
R: É, mas tem uma definição clássica que roda por aí que é pensar na mulher enquanto um ser humano com direitos iguais, mas ao mesmo tempo, enquanto mulher negra, o feminismo às vezes pode ser muito prejudicial… Acho que existem vertentes do feminismo, acho que sei lá, posso dizer que sou uma feminista interseccional. Eu entendo o que é o gênero, raça tem tudo a ver com essas questões. Se você é uma feminista que não é interseccional, você pode colocar tudo em um mesmo barco, patamar e consegue ser tão opressor quanto… Nesse sentido né, assim, mas vai ter mulheres negras que não vão acreditar no feminismo, pensar em uma outra vertente que é o mulherismo que vem África. Você perguntou se eu me considero feminista? Sim, feminista interseccional.
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