#mulheresquefotografam // Anna Ortega

Eu sou a Anna, moro aqui em Porto Alegre e tenho 18 anos.

Nítida: Como começaste teu interesse pela fotografia?

Anna: Eu não sei exatamente como foi pontualmente, mas eu sempre tive envolvida muito com teatro, cinema, enfim artes no geral. A minha infância sempre foi muito conectada com essas coisas. E acho que a fotografia foi o fruto dessa relação entre tudo, que foi essa necessidade de me expressar, e eu sempre gostei muito do contato com o outro, de trocar com o outro, e acho que a fotografia é muito essa ponte. Então aos poucos eu fui descobrindo o quanto eu gostava de poder… acho que é mais esse olhar cuidadoso, sabe, quando tu fotografa. Porque eu acho que fotografar te possibilita observar coisas que geralmente as pessoas não observam. Transmitir a beleza do que tu vê. E enfim, acho que surgiu um pouco disso. Mas é muito essa junção, não teve um ponto específico, tipo um ano, foi muito um processo.

N: Tu estudaste fotografia alguma vez?

A: Sim, eu já fiz um curso básico de fotografia, mas quase tudo o que eu aprendi foi autodidata. Acho que eu aprendo muito olhando o trabalho das outras pessoas também. Eu gosto muito mais de entender a fotografia simbolicamente, e a partir daí ir aprendendo. Eu acho importante a técnica, acho muito importante a gente dominar a técnica, até mesmo porque sem o domínio da técnica a gente não se sente segura pra fazer as coisas, mas eu aprendi muito a partir da imagem. Fazer imagem a partir da imagem. Tanto que recentemente eu fiz um curso de retrato, com o Tiago Coelho, e ele era a junção do que eu acredito na fotografia, por que a aula dele foi praticamente imagética, então acho que isso foi perfeito. 

N: Tu trabalhas comercialmente com fotografia?

A: É, agora eu tô começando a trabalhar, então eu faço alguns ensaios, às vezes as pessoas me chamam pra eventos, mas não é exatamente o que eu faço, eu não entrei na fotografia para essas coisas. Essas coisas estão surgindo meio que como consequência dos outros trabalhos.

N: Tu já sofreste alguma discriminação, alguma situação machista, na fotografia?

A: Até então, eu diria que não, mas recentemente eu fui fotografar a Noite nos Museus e um cara ficava me seguindo enquanto eu fotografava, um fotógrafo, no mesmo lugar que eu ia, ele ia tirar a mesma foto que eu tirava. Então, assim, acho que isso foi o mais próximo que eu cheguei. Mas como eu não tive muito contato com o mercado, eu acho que talvez por isso ainda não tenha situações explicitamente, que eu possa contar. Mas acho que isso foi bem chato, foi bizarro. (risos)

N: O que tu entendes por feminismo e tu te consideras feminista?

A: Não sei como falar em palavras, mas com certeza eu me considero feminista sim. Mas eu acho que o feminismo é muito, é tanto algo individual assim, um entendimento de quem tu é, a mulher que tu é, e algo que nos conecta com as outras mulheres. Pra mim não existe resistência sem feminismo, eu acho que talvez algumas mulheres falem “eu não sou feminista” porque elas atribuem outras coisa pejorativas e que talvez não sejam necessariamente o feminismo. Então existe uma confusão em relação ao que é ou não. Mas eu acho que essa gentileza entre mulheres, esse mão a mão entre mulheres, pra mim isso é o feminismo. A gente se sentir protegida com as outras mulheres, a gente poder se ajudar, a gente se enxergar como mulheres, saber nossas dificuldades e poder crescer juntas. Eu acho que essa é uma linha invisível que nos liga, sabe, eu acho que mesmo essas mulheres que falam que não são, elas também tão ligadas por essa linha, elas só não conseguem enxergar talvez. E também existe uma reverberação do feminismo que é totalmente dentro, intra corpórea, tipo eu me apropriar do meu corpo, eu defender o meu corpo, quem eu sou, o que eu gosto de fazer… Tudo isso eu acho que é feminismo, eu acho que não existe vida sem entender o feminismo pra gente. Acho que é quase uma morte, assim, sabe (risos). Eu me sentiria desesperada de não ter isso comigo, e talvez não precisaria se chamar feminismo, algumas pessoas se incomodam com essa palavra, mas eu acho que precisa chamar, porque quando a gente não nomeia as coisas a gente não consegue sentir tanto elas, a gente precisa nomear. Mas é algo muito maior, enfim, a gente precisa dessa concretude da palavra pra conseguir a concretude do movimento. Acho que é isso, um pouco eu, um pouco as outras, mas é essa ligação entre nós.

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Contato: @anninhaortega 

behance.net/anninhaortega


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