O coletivo Nítida realizou no último domingo mais um encontro. Desta vez o tema foi “Visões de fotógrafas sobre o masculino”. Nesta edição, quatro profissionais utilizando meios variados apresentam trabalhos acerca do tema, mostrando suas referências e processos de construção de cada projeto.
Carolina de Góes e Renata Stoduto apresentam
Breve inventário de homens solteiros:
“Este é um projeto que nasceu da parceria de duas fotógrafas que, intrigadas com as imagens que alguns homens escolhem para se apresentar a possíveis parceiras românticas em aplicativos de paquera, começaram a criar um pequeno acervo. Percebemos que muitas das situações, assuntos, contextos e visualidades se repetiam nessas imagens e que elas poderiam ser categorizadas em uma tipologia, e que essa tipologia poderia nos falar um pouco dos estereótipos e padrões de comportamento masculinos. Breve inventário de homens solteiros é um projeto feminista; é feito por mulheres e inverte os papeis normais da imagem. Nele, são mulheres olhando para homens que são apresentados como objetos. A liquidez, a velocidade e a informalidade desses aplicativos também são fatores que nos interessam e que nos dizem muito sobre o comportamento da nossa sociedade contemporânea. Entretanto, não nos interessa aqui um olhar julgador, e sim mostrar as imagens como elas se apresentam e tentar perceber como somos todos guiados por estereótipos e padrões sociais.”
Deb Dorneles apresenta
Palhaços Perpendiculares:
“No trabalho em andamento, busquei a satisfação de uma fantasia estética registrando pênis vestindo preservativos coloridos. Optei por convidar apenas fotógrafos para posarem como modelos para mim, a fim de observar suas reações perante a inversão de seu papel profissional: deixar de ser quem vê e vir a ser olhado. Por inspiração do trabalho “Clowns” de Cindy Sherman e a sugestão anatômica do corpo masculino, escolhi fazer retratos instantâneos recortando apenas a pélvis desses fotógrafos, pedaço que a mim interessa e que recorda o rosto do palhaço e seu nariz alegórico, buscando encará-los bem de perto, alcançando o imediatismo que o desejo me exige e talvez obtendo alguma revelação íntima durante o processo que possa estar maquiada atrás de suas ideias de masculinidade, sexualidade e poder.”
Leli Baldissera apresenta
Ver-me vista:
“Neste trabalho, parti de encontros que tive com amigos para produzir retratos, e com o decorrer do processo entraram questões políticas. Quis falar sobre a experiência do olhar no retrato e como ele se traduz ao lidar com homens e mulheres. Fotografei artistas e em troca posei de modelo para um desenho, pintura, fotografia – a técnica que eles preferissem. Juntamente com essa troca, é abordada a questão da inversão de papéis clássicos da história da arte e da cultura visual, em que homens utilizam figuras femininas como modelo para suas obras. Nesse projeto, a modelo deixa de ser passiva para também retratar quem a retrata. Assim, convidei apenas artistas homens, para ter a visão de uma mulher que serve de “musa” e também de uma mulher que tem o homem como seu tema de produção. A questão do gênero é trazida para falar sobre o poder de quem olha e sobre como mulheres e homens são vistos e representados em imagens.”