Zanele Muholi

A fotógrafa Zanele Muholi (1972) é uma ativista visual que tem como foco de seu trabalho trazer à luz as mulheres lésbicas negras da África do Sul, seu país natal. Formada pela escola de fotografia Market Photo Workshop, em 2003, teve sua primeira exposição individual no ano seguinte, na Johannesburg Art Gallery. Em 2009, concluiu o Master of Fine Arts na Universidade de Ryerson, no Canadá.

Em sua abordagem fotográfica, Zanele busca registrar a comunidade LGBT como um documento para futuras gerações. “Eu trabalhei duro para criar imagens positivas e socialmente significativas de lésbicas negras. E assim temos feito um movimento significativo em direção à nossa visibilidade. Tem sido minha principal missão garantir que aqueles que vêm depois de nós terão outros olhos para enxergar”, explica.

Em 2002, ainda no começo da sua carreira como fotógrafa, co-fundou a organização Forum for the Empowerment of Women (FEW), dedicada à promoção de um espaço seguro para que mulheres lésbicas negras pudessem se reunir. Nessa época, Zanele também realizou uma pesquisa sobre crimes de ódio contra homossexuais, a partir da qual foi desenvolvida sua primeira exibição individual, “Visual Sexuality: Only Half the Picture”. A mostra levantou discussões públicas sobre assuntos como “estupro corretivo”, HIV e agressões físicas.

Ao longo da carreira artística Zanele tem reforçado sua posição como ativista visual, atuando diretamente a favor dos direitos da comunidade LGBT tanto em organizações de apoio e empoderamento quanto em seus trabalhos fotográficos. Em 2010, co-dirigiu o documentário “Difficult Love”, produzido pela emissora de televisão sul-africana SABC, no qual a própria artista apresenta sua visão sobre o lesbianismo na África do Sul e histórias que se entrelaçam com seu trabalho fotográfico.

Um de seus mais recentes trabalhos, “Faces and Phases”, apresenta retratos em preto e branco de homossexuais sul-africanos. Os rostos que encaram a fotógrafa também enfrentam bravamente a realidade na qual vivem em seu país. Ainda que o casamento de pessoas do mesmo sexo seja legalizado e a discriminação baseada na sexualidade seja proibida, a violência contra LGBT é frequente na África do Sul. Em 2009, a então Ministra de Arte e Cultura do país, Lulu Xingwana, deixou uma exposição de Zanele acusando-a de imoral, ofensiva e contra a construção nacional. Em resposta, a artista comentou a atitude da política: “É paralisante. Eu espero que as pessoas pensem antes de agir, e se questionem. Eu quero criar diálogo.”

Na sua última série fotográfica, “Somnyama Ngonyama (‘Hail, the Dark Lioness’)”, a artista voltou a câmera para si. Nos retratos, confronta as questões raciais e de pigmentação dos arquivos fotográficos. Sobre se colocar na posição de diferentes personagens e arquétipos, comentou: “Tenho me retratado de forma altamente estilizada usando a linguagem performática e expressiva do teatro. O rosto negro e seus detalhes tornam-se o ponto focal, forçando o espectador a questionar o seu desejo de olhar para imagens da minha figura negra. Ao exagerar a escuridão do meu tom de pele, eu estou recuperando minha escuridão, o que eu sinto é continuamente realizado pelo outro, o privilegiado.”