
Alice Austen foi uma das primeiras fotógrafas norte-americanas e, durante sua vida, capturou aproximadamente 8.000 imagens. Apesar de ser mais conhecida pelo trabalho documental, ela também foi uma artista com grande sensibilidade estética. Ela teve um romance de 50 anos com Gertrude Tate e foi uma pessoa que criou, dentro de uma sociedade limitada e tradicional, sua própria vida independente.
Alice Austen nasceu em 1866, no estado de Nova York (EUA), e cresceu como a única criança na “Clear Comfort” – casa dos avós, onde vivia sua mãe e alguns tios. Quando ela tinha dez anos de idade, seu tio, o capitão da marinha Oswald Müller, trouxe para casa uma câmera fotográfica (acredita-se que era uma dry plate de fabricante britânico). Apesar da idade, ela ouvia com atenção as explicações do tio e logo teve permissão para manuseá-la. O outro tio, Peter, professor de química, ensinou Alice a lidar com os químicos e realizar as impressões. Os tios, que apoiaram a sobrinha no novo hobby, fizeram também um quarto escuro para que ela trabalhasse nas fotografias.
Quando Alice tinha 18 anos, suas fotografias já tinham uma qualidade considerada profissional. Ela fotografou exaustivamente tudo e todos os que estavam ao seu redor: os avós, a mãe, tia, tios, empregados da casa e os amigos e visitantes. Além disso, ela fez diversos autorretratos – o que pode ser interpretado de diversas formas, como: o desejo de auto-expressão e representação ou o simples fato de as outras pessoas não estarem dispostas a posar (pois era necessário ficar imóvel por muito tempo, chegando a mais de uma hora, em frente à câmera).
A fotógrafa costumava participar de diversos eventos sociais e era bastante popular na Staten Island. Inclusive, foi a primeira mulher do local a ter um carro, com o qual podia ir para todos os lugares levando seus pesados equipamentos e registrando tudo o que a interessava. Alice era também muito atlética e teve outro grande hobby, o qual registrou diversas vezes em suas fotografias: jogar tênis.
Outro esporte que estava se tornando a “febre” nacional era o ciclismo. Violet Ward, uma grande amiga sua, escreveu o livro “Bicycling for Ladies” e quem fez as fotografias foi, claro, Alice Austen. O trabalho, um dos únicos considerados comerciais na carreira da fotógrafa, foi publicado em 1896.
Em 1899, durante uma viagem de verão, Alice conhece Gertrude Tate em um hotel chamado “Twilight Rest”. As duas ficam rapidamente amigas e, a partir daí, surge também uma grande história de amor. Gertrude, que era professora do jardim da infância e também instrutora profissional de dança, passou a visitar Alice regularmente e as duas também começaram a passar longas férias de verão juntas na Europa. Mas apenas em 1917 que as duas passaram a morar juntas, na “Clear Comfort“, mesmo com a desaprovação da família.
Gertrude está presente em muitas das fotografias de Alice e elas aparecem, como também acontece com outras duplas de mulheres, visivelmente como um casal. Ao longo de sua trajetória, percebe-se que a fotógrafa buscou incansavelmente a visibilidade das mulheres, especialmente em momentos de união – o que gera uma potencialidade ainda maior. Outro aspecto interessante e transgressor da sua obra é a brincadeira com os papéis de gênero, mais evidentemente percebido em “Dressed up as Men, 1891”.
Apesar de ter levado uma vida muito boa e com diversos privilégios, depois da crise de 1929 a situação financeira foi ficando cada vez mais complicada. Foi preciso vender a casa, os pertences e até mesmo seus trabalhos e equipamentos como fotógrafa. Alice e Gertrude tentaram inclusive ter uma loja de chás, mas também não foi o suficiente para manterem-se. A família de Gertrude ofereceu suporte, mas somente para ela. Então, a partir de 1950, Alice foi para uma casa de repouso direcionada a pessoas sem condições financeiras.
Em 9 de outubro de 1951, Alice pode participar de uma exposição feita com suas fotografias e encontrar as 300 pessoas que foram convidadas para comemorar o “Alice Austen Day”. Ela disse: “Eu estou feliz que o que um dia me deu tanto prazer agora pode ser um prazer para outras pessoas”.
A fotógrafa faleceu em 1952, em uma casa de repouso, e teve um funeral simples. Alice e Gertrude gostariam de ter sido enterradas juntas mas, obviamente (e infelizmente), as famílias ignoraram o desejo do casal e as deixaram separadas.




REFERÊNCIAS
HORWITZ, Margot F. A Female Focus: Great women photographers. Franklin Watts, 1996.